Dois mais um corpos numa só cama,
cheiros, mãos, pêlos
Uma bebida mais duas, num único copo
Dois, três, quatro, cinco, infinitos
sonhos de uma só vez
Até parecia um sonho, daqueles que se
acorda encharcada
Mas a respiração e os anseios
corpóreos eram reais
Não se dominava, não se gemia
falsamente, não abandonava o outro em nenhum momento
Não fingia estar gostando, naquela
hora era impossível fazê-lo
O corpo estremecia só de ouvir
suspiros e gemidos alheios
A pele arrepiava, a explosão do prazer
se dava no outro, no âmago do seu toque
Na fala doce ao pé do ouvido, no olhar
sob a luz escura do cômodo
Nos órgãos endurecidos e suplicantes,
cheios de vida
Pelo outro órgão, também endurecido
e pelo terceiro órgão, igualmente aos outros
Pela mente não passava nada, era tudo
calmo
Não se sabia a hora, o dia, a
localidade
Mas haviam almas entregues, se não existia fé, nesse dia ela nasceu
No corpo do outro, no suór do próximo,
no corpo nu, próximo à cabeceira
E embora não dissessem, imploravam
pelo terceiro corpo
Três, quatro, cinco berros, sussurros, gritos e
suspiros
Silêncio, o ápice, o vento bateu
forte nos rostos e, como num filme
Se olharam, as pernas trêmulas, o
peito aberto, a boca seca
E o amor se deu, sem qualquer palavra
Se deu, se comeu, se perdeu e
adormeceu.